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ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA

A do Brasil, a ABL, obriga o fardão. A da Bahia, um colar.

Preciso descrevê-lo. Ou melhor, mostrá-lo logo ABAIXO...

Muito melhor. Além do calor baiano, sei que a costura pode levar fios de ouro. Sai cara. Muitos

aceitam o pagamento do governo – seja municipal, estadual ou federal, a depender das alianças

políticas. O que é uma contradição. Em termos?

Nos moldes da Académie Française, as brasileiras – inclusive a ALB – têm 40 cadeiras numeradas.

Somos 40 membros e 20 correspondentes. Todos vitalícios. Cada uma com uma espécie de ‘santo

protetor’ permanente e imutável.

Um pouco de água para mim. Vamos subir a ladeira, sem degraus.

A primeira sede foi no Nobre Solar da Ladeira da Praça. Com maiúsculas para valorizar.  Em 1917,

a data de 17 de março não foi escolha ao acaso. Era uma lembrança-homenagem para a

Academia Brasílica dos Esquecidos, primeira academia de letras do Brasil. Criada na Bahia em 7

de março de 1724.

O artigo 1º do Estatuto carrega o lema: “Servir à Pátria honrando as letras”. 

E objetiva:

– O cultivo da língua e da literatura nacionais, a preservação da memória cultural baiana e o

amparo e estímulo às manifestações da mesma natureza, inclusive nas áreas das ciências e das artes.

O que eu estaria fazendo em Itaparica no dia 29 de julho de 1930? Fim de julho, imagino que fim

de férias. Com quem terei ido? Carolina, filhas e netos? A ilha que leva o nome indígena que

começa por Ita=Pedra é cercada por arrecifes. É bela de dentro para fora e de fora para dentro.

Especialmente quando assistimos o Pôr do Sol sobre ela em alguns pontos privilegiados de Salvador,

da Ribeira até a Barra, passando por Mont Serrat e o Porto.

Só sei que nesse dia 29 de julho de 1930 datilografei uma minúscula missiva com o seguinte teor:

– Illmo. Snr. Dr. Presidente da Academia de Letras da Bahia. Passo às mãos de V. S. o voto para a

vaga do Dr. Miguel Calmon.  Atenciozas saudações.

Era meu voto.

Mais um que chegava. Mais um que partia.

A Academia sempre me foi cômoda. A Academia sempre me foi um cômodo, como lar.

A Academia de Letras da Bahia sempre foi uma casa nômade, pelo menos no período em que lá

convivi. Começou em residências de colegas, informal, com atas manuscritas na memória e muitas

palavras ao vento, entre oralidades. Sempre em busca de recursos. Transportou-se para o Palácio

da Aclamação no Campo Grande, ocupou uma sala no IGHba até chegar na primeira moradia

própria, no Terreiro de Jesus. 

 

O difícil é se livrar da politica.

O primeiro presidente da ALB, entre 1917 e 21, foi Ernesto Carneiro Ribeiro. Engenheiro e professor,

foi quem colocou ferro e concreto na instituição. Nem se colocou nela. Mas assim o exigimos. Ficou

provisioriamente com a cadeira 41 – exceção à regra – até que o colega Severino Vieira partiu e

voltamos aos 40. Natural de Santo Amaro da Purificação, ficou mais conhecido pelas vias e avenidas

de Salvador que rasgou em nome do progresso.

Parêntesis.

No caminho, demoliu igrejas – inclusive a antiga São Pedro – e casarões. Lá veio a Avenida Sete

de Setembro, em paralelo com a minha querida e suave Avenida Joana Angélica, para onde me

mudei, finalmente feliz por ser proprietário de um sobrado, duramente comprado no final dos anos

1920, começo dos 30.

Além de uma nova São Pedro, a Igreja, o governador J.J. Seabra também inaugurou um relógio

francês na praça de mesmo nome. Foi em 15 de novembro de 1916.

O povo já não tinha pretexto para se atrasar...

LÍNGUA PORTUGUESA

Entre pensamentos e aflições, está a leitura que ora você faz.

Curioso de saber como está o nosso português-brasileiro.

Como estão os acentos e as palavras.

Colocar um hífen sempre foi um dilema.

Usar as palavras corretas é de suma importância na Justiça. Uma sessão não é uma seção. 

Por isso já falei da dificuldade de cartórios e escrivãos que exageram no gongorismo.

Entre os séculos 16 e 20, procurava-se a raiz latina ou grega para escrever as palavras, tanto aqui como em Portugal. Uma questão de caráter etimológico. Só em 1907 é que começamos a simplificar a escrita em livros, jornais etc. e ‘tais’.

Palmas para a Academia Brasileira de Letras.

Acompanhei com atenção, mesmo à distancia, o trabalho de uma comissão portuguesa para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme para publicações de ensino e oficiais.

Foi em 1910, ano em que Portugal finalmente virou uma República. Ano seguinte, implantaram sua primeira reforma ortográfica, mas ficamos de fora, a ver navios. Afinal, temos de reconhecer que o português no Brasil tem originalidades impecáveis. 

A ABL até tentou harmonizar os dois idiomas – se é que podemos chamar assim – em 1915. Mas os acadêmicos revogaram a medida em 1919.

Reviravolta em 1924, quando a Academia de Ciências de Lisboa procurou e Brasileira para pesquisar uma grafia comum. Daqui de Salvador, na nossa ALB, acompanhamos os passos.

Cinco anos depois, foi lançado um novo sistema gráfico. Finalmente, em 31, foi promulgado o primeiro Acordo Ortográfico Brasil-Portugal. Motivo: suprimir diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa.

Sabe no que deu? Em nada. Nunca foi colocada em prática.

Tenho certeza que outras vieram.

Tem coisas que gosto. Muitas, nem tanto.

GALEGO

Ao ser criado em 1143, Portugal não inventou nem impôs uma língua portuguesa. Dom Afonso Henriques evitou. O galego era o idioma do baronato medieval do norte do país, pelo menos até inícios do século 14, quando começou a ser afastar dessa raiz rural. Introduz-se o ‘i’ entre vogais, por exemplo, e os galaicos ‘avea’ em vez de aveia, ‘balea’ no lugar de baleia e ‘cadea’ onde se quer dizer cadeia. Cadeia, palavra que muito pronunciei nos tribunais e nos meus modestos escritos.

Mas quando o poder político segue para Lisboa, a língua se aproximou do espanhol, que era considerada erudita pelas elites. E lá vão eles. Ou melhor, nossos antepassados. O ‘l’ e o ‘N’, expulsos séculos antes, retornam em grande estilo, com pompa, pela porta da frente: ‘Dooroso’ volta a ser ‘doloroso’ e ‘Lumioso’ é ‘luminoso’.

Como terá sido o português que desembarcou nos Navios Negreiros, oriundo de Angola, Moçambique, Benin e outras praias e plagas?

Na verdade, entre as românicas, a língua portuguesa sempre foi, orgulhosamente, promíscua. Recebia influências terceiras e criava suas extravagâncias.

DISCURSO DE POSSE_ALB_ ZELIA GATTAI

DISCURSO DE POSSE_ABL_JORGE AMADO

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