ORIGENS_CABECEIRA DE BASTO








Li e vi a imagem da estátua ‘O Basto’.
O sobrenome Bastos tem origem geográfica no Concelho de Basto, Portugal.
Dizem que o guerreiro lusitano personifica a coragem das gentes da região, alma, honra e tradição. Remonta aos tempos do rei D. Afonso II, logo ali, no século 13, na resistência dos cristãos.
Priscas eras, Tarik, o mouro, e suas tropas, avançavam desde a Galiza – ou Galícia – em busca da glória da conquista.
No Mosteiro de São Miguel de Refojos organizou-se a resistência. No comando, Dom Gemiro, o abade, ao lado de uma centúria de servos e homens de armas. Com destaque para o guerreiro-monge Hermígio Romarigues, que vinha a ser parente do fundador do Mosteiro.
Diferente de mim, era de porte avantajado e ‘rosto retalhado por mil golpes das escaramuças passadas’, como foi descrito.
Reza a lenda: – Até ali, por São Miguel, até ali, basto eu!
Bastou! Cá estamos.
Os mouros fizeram três arremetidas. Três vezes repelidas. Sobre a ponte de acesso ao Mosteiro, estava a espada de Hermígio Romarigues. A ribeira ficou vermelha de vergonha e de sangue.
Depois da contenda, o monge-guerreiro foi para o reduto cristão nas Astúrias, onde começava a Reconquista ocidental, pelo
El-Rei Pelágio.
Metade de mim veio d’além-mar.
Entre Portugal e Brasil, no fim e no fundo, a Bahia é meu país.
Sou uma pessoa de portas abertas, sem chave. Gosto da liberdade de ir e vir.
O Dicionário das Famílias Brasileiras é categórico:
– Numerosas foram as famílias que passaram com este sobrenome para diversas partes do Brasil, em várias ocasiões. Não se pode considerar que todos os Bastos existentes no Brasil, mesmo procedentes de Portugal, sejam parentes, porque são inúmeras as famílias que adotaram este sobrenome pela simples razão de ser de origem geográfica, ou seja, tirado do lugar de Basto.
Na eterna briga por religião e raça, estigma do ser humano, encontramos muitos cristãos novos que adotaram o sobrenome Bastos. Especialmente a partir de 1497, só três anos antes do nosso conterrâneo, Pedro Álvares Cabral, ao lado de seu escriba Pero Vaz Caminha, desembarcarem em praias bahianas. É a certidão de nascimento da nossa Bahia com H.
Triste informar que há registro de condenação por judaísmo, em 1741, de uma família com o sobrenome Bastos.
RITTA E JOÃO
Final do século 18, nascem meus antecedentes mais reconhecidos.
Como escrito em documentos, minha avó se chamava Ritta Cassemira de Cacia (ou Cássia, abrasileirado).
Ritta com dois Tês. Cassemira com dois Esses.
Ritta se apaixonou por João Ferreira Basto (ainda sem S), pai de João Justiniano, meu pai.
Todos portugueses da gema.
Como bom lusitano, meu pai era comerciante e investia em terras, talentos que não herdei. Desembestou-se para o Brasil no movimento provocado pela vinda da Família Real em 1808.
A economia portuguesa sofria com a invasão – e, principalmente, pressão – francesa. Veio para o Nordeste – com N maiúsculo – e é esse destino que agradeço. Trouxe recursos herdados e também criados por ele na região da Cabeceira de Basto, uma espécie de nordeste de Portugal.
Veio, viu e venceu.
E voltou…
CABECEIRA DE BASTO
A Cabeceira é uma vila da sub-região do Ave e pertence ao distrito de Braga.
Agricultura, agricultura e agricultura, os bens de ‘Basto’ são.
Técnicas tradicionais para fazer o vinho verde e plantar cereais, azeite e castanhas. Pequena pecuária para o sustento rural. Raças maronesa e barrosã. Exploração das florestas e um pouco de mármore. Essa a realidade que meus avôs e pais tiveram antes da imigração para o Brasil.
Pesquisei os nomes de suas freguesias para saber se um dia as conheceria: Abadim, Alvite e Passos, Arco de Baúlhe e Vila Nune, Basto, Bucos, Cabeceira de Basto, Cavez, Faia, Gondiães e Vilar de Cunhas, Pedraça, Refojos de Basto / Outeiro e Painzela, e, finalmente, Rio Douro.
Como pontos cardeais, referências para o dia a dia, os povoados se dividem em nomes interessantes.
Ao norte, Montalegre. Ao nordeste, Boticas. Ao oeste, Fafe. Ao noroeste, Vieira do Minho. Ao leste, Ribeira de Pena. Ao sudeste, Mondim de Basto. Ao sul, Celorico de Basto. Parecem poesia se unidas numa só frase – e poderia ser intitulada
DA CABECEIRA A CRASTO, que cometo aqui na minha ‘Segunda Vida’.
E, creiam, não teria escrito na ‘Primeira Vida’, pois, pois, pois não as vivi.
Baseado no atestado de óbito, eu dedilho – e resumo – a trajetória do meu pai:
De origem em Sam Pedro de Miragaia, veio de Santo Idelfonso, cidade do Porto, freguesia do Concelho de Ponte de Barca. Viajou para a Villa da Feira de Santa Anna, provincia da Bahia. Fez viagem de volta para Tras do Crasto d´esta Freguesia d´Affife, Concelho de Vianna, Castello Diocese de Braga.
Perdoem a liberdade poética sobre a geografia. Sempre quis conhecer a Serra da Cabreira, que tem um pico de 1197 metros de atitude, o Alto das Torrinheiras. Precisaria treinar caminhadas na Chapada Diamantina.

DOCUMENTO DA MORTE DE JUSTINIANO FERREIRA BASTOS
ATESTADO DE ÓBITO de JOÃO JUSTINIANO FERREIRA BASTOS.
(Folha Número 15). Aos vinte dias do mes de Julho do anno de mil oito centos e sessenta e tres às seis horas do dia na casa numero cento e dezenove do logar de Tras do Crasto d’esta Freguesia d´Affife, Concelho de Vianna do Castello Diocese de Braga faleceu tendo recebido sacramentos da Penitencia e Extrema-Unção, um individuo do sexo masculino por nome João Justiniano Ferreira Basto vindo a esta Freguesia, digo vindo da Villa da Feira de Santa Anna, Provincia da Bahia, a esta Freguesia d´Affife tratar de sua saúde de trinta e sete annos, viuvo de Maria, cujo sobrenome se ignora, natural da Freguesia de Santo Idelfonso da cidade do Porto, negociante na dita Villa da Feira de Santa Anna, e n´ella morador, filho legítimo de João Ferreira Basto, natural de Sam Pedro de Miragaia da cidade do Porto: o qual consta ter feito seu testamento deixando dois filhos na dita Feira de Santa Anna: foi sepultado na Egreja Parochial d’esta Freguesia d´Affife.
E para constar lavrei em duplicado este assunto que assigno. Era ut supra. O Reitor Fernando dos Santos Ennes e Silva.
Observação minha por vício jurídico:
ERA UT SUPRA é uma expressão latina que significa ‘a data como acima’, para evitar a repetição de uma data já escrita.